
Bandas Alternativas Brasileiras Que Foram Silenciadas Pela Ditadura Militar
Grupos brasileiros com sonoridades ousadas e críticas sociais foram barrados pela censura da ditadura militar — e perderam a chance de brilhar em um país livre.
LISTAS
Redação - SOM DE FITA
6/23/2025




Durante o regime militar no Brasil (1964–1985), a censura não mirou apenas a política partidária — ela caiu com força sobre a arte, especialmente a música. Entre os alvos da repressão, estavam bandas alternativas com sonoridades experimentais, letras provocativas e espírito libertário, que poderiam ter explodido no cenário atual se tivessem tido liberdade para criar.
Ao contrário do que se pensa, a censura não atingiu só os grandes nomes da MPB como Chico Buarque ou Caetano Veloso. Grupos de menor projeção ou alternativos à grande indústria também foram perseguidos, silenciados ou mutilados em sua expressão.
Confira algumas dessas bandas que tiveram sua trajetória comprometida por decisões arbitrárias do regime:
1. Ave Sangria (Pernambuco)
Em 1974, o grupo recifense Ave Sangria lançou seu álbum de estreia homônimo, uma obra-prima do rock psicodélico com forte acento nordestino. Menos de dois meses após o lançamento, a Divisão de Censura mandou recolher todos os discos por conta da música "Seu Waldir", alegando ofensa à moral e aos bons costumes.
O disco sumiu das lojas, a banda foi proibida de tocar a faixa ao vivo, e o grupo se desfez pouco tempo depois. Só em 2014 o álbum foi relançado oficialmente, quando o Brasil já era outro país.
2. O Peso (Rio de Janeiro)
Formada em 1975, a banda O Peso foi uma das precursoras do hard rock brasileiro. Seu som pesado, com letras críticas, logo chamou atenção da censura, que vetou parte de seu repertório. O grupo chegou a ser impedido de tocar em algumas apresentações por causa das letras consideradas “subversivas”.
Apesar do talento e da influência sobre bandas que viriam depois, O Peso não conseguiu gravar um disco na época, e sua obra ficou restrita a fitas de shows e registros piratas. Um EP só foi lançado décadas depois, de forma póstuma.
3. Apokalypsis (São Paulo)
Banda cristã progressiva surgida em 1976, o Apokalypsis misturava poesia bíblica com som psicodélico e rock alternativo. Apesar do conteúdo religioso, o grupo sofreu censura velada por usar passagens bíblicas que eram interpretadas como críticas ao regime e à violência institucionalizada.
Shows do grupo foram cancelados e eles não conseguiram espaço nas rádios ou gravadoras da época, levando à dissolução precoce da formação original. Um culto underground ainda mantém viva a memória da banda.
4. Banda do Companheiro Mágico (Bahia)
Com um nome inspirado em utopias psicodélicas e um som experimental que misturava rock progressivo e música nordestina, essa banda baiana foi formada por artistas ligados ao Grupo de Teatro Vila Velha, conhecido por sua postura crítica ao regime.
Apesar do talento e da proposta artística inovadora, o grupo foi monitorado pelos órgãos de censura e teve apresentações interrompidas pela polícia política, segundo depoimentos registrados em acervos culturais da Bahia. Pouco restou de sua obra gravada, mas o grupo é citado como referência por músicos baianos da cena alternativa.
5. Grupo Rumo (São Paulo)
Apesar de não ter sido banido diretamente, o Grupo Rumo, surgido no final dos anos 70 na USP, enfrentou grande resistência da indústria fonográfica por conta de seu estilo experimental e letras anti-comerciais. O ambiente de censura inibia gravadoras de apoiar projetos ousados — especialmente aqueles vindos da universidade, ambiente vigiado e frequentemente reprimido.
Embora tenha conseguido lançar discos, o Rumo nunca teve apoio da grande mídia, algo que muitos integrantes atribuem à herança do medo deixado pela repressão cultural da ditadura. Suas letras sobre cotidiano, linguagem e crítica social resistiram à margem.
A Censura Vai Além dos Vetos Oficiais
Importante lembrar: a censura da ditadura não se limitava a canetadas explícitas. Muitas bandas foram vítimas de auto-censura, do medo imposto, da recusa de gravadoras em assinar artistas “problemáticos” e da vigilância em espaços de arte alternativa.
Além disso, diversos artistas tiveram gravações confiscadas, eventos proibidos e contratos rompidos por motivos ideológicos. Isso criou um buraco na história da música brasileira — justamente no momento em que ela poderia florescer com mais liberdade e experimentação.
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